Friday, October 7, 2016


A pessoa com deficiência na minha história de vida

Interessante parar para pensar nesta questão neste momento... O interesse pela pessoa com deficiência e a possibilidade de trabalhar em prol dela penso que somente apareceu após a graduação... Até então, não me recordo de ter qualquer relação...

Na família, tenho uma prima com uma deficiência física... E lembro que, por ter quase a mesma idade que ela, brincávamos juntas... Sempre uma pessoa como todos. Ás vezes, a minha avó dizia que tinha especial atenção devido ao "problema" dela... Mas ela sempre foi muito esperta, muito feliz e sempre a achei muito segura. Por isso, ao resgatar minhas memórias, levei um tempo para perceber que havia uma pessoa com deficiência em minha vida...

Ah, além dela, meu pai! Ele, desde que o conheço, tem um grau elevado de deficiência auditiva... Cinquenta por cento de um ouvido, trinta no outro. Em momento algum os considerei diferentes por isso... Aliás, acho que sempre foi muito normal. Na vida escolar, não lembro de ter tido colegas com deficiência... Lembro-me de uma professora de Língua Portuguesa no Ensino Médio com uma deficiência física... Confesso que, inicialmente, estranhei... Talvez por ser uma deficiência diferente do que eu já havia visto, pois era nas mãos... Mas o respeito sempre foi maior do que qualquer estranhamento.

Bom, após o ensino médio, lembro que somente durante a graduação. Uma amiga trabalhava com um vereador cego na minha cidade. E um dia, ela levou o alfabeto em braille para que pudéssemos ver... Lembro que fiz questão de fechar os olhos e tentar identificar as letras do alfabeto! Poxa, foi difícil! Ainda lembro a dor de cabeça que tive por conta disso! Transpor a linguagem oral e visual para a espacial?

Ainda na graduação, tive contato com o que se produzia na academia sobre os surdos. E não foi na minha graduação... Uma amiga, que fazia Pedagogia, tinha grande interesse na área e conversávamos muito sobre. Até que ela ingressou no mestrado e foi trabalhar a questão da criança surda. Neste momento, já havia acabado a graduação e tive a oportunidade de aprender Libras. Não tinha proximidade com os surdos, somente me interessei em aprender a língua. É de se apaixonar, não é? Fiquei encantada.

Neste período, eu trabalhava numa instituição financeira. E lá, tive o meu primeiro contato em Libras! Como ficava feliz quando aparecia por lá aquela família linda - um casal de surdos e uma filha com seus sete anos ouvinte! Eu tentava muito usar meus poucos conhecimentos em Libras, mas tentava! Achava uma delícia... A satisfação que eles sentiam ao ver que eu tentava usar a língua deles para me comunicar era visível... E eu, mais ainda!

Nesta mesma época, pensava também em fazer o mestrado...E a questão que me surgiu foi: como a minha área poderia contribuir com a comunidade surda? Então surgiu meu projeto. A ideia inicial era investigar como o sujeito surdo se apropriava das diferentes formas às quais as pessoas e os documentos oficiais se dirigiam a ele, ou seja, como o tratavam ao se referirem a ele. Devido ao recorte e ao curto período para o curso, meu orientador e eu optamos por analisar os diferentes discursos produzidos pelos documentos oficiais desde as primeiras publicações até os dias atuais. E, mais uma vez, fiquei perplexa... A exclusão social do sujeito com deficiência começa nas palavras, na forma como nos referimos a eles... E se nos documentos oficiais essa exclusão acontecia, como garantir a inclusão deles?

Enfim... Eu comecei a dar aula somente após ingressar no mestrado... Comecei no ensino fundamental e logo que entrei, havia um aluno com deficiência intelectual... Penso que haviam mais alunos com deficiência, mas só entrava na sala do Felipe... Eu era professora substituta e só entrava às vezes. Penso que pouco colaborei com a formação dele... Interessante, pois hoje consigo fazer um paralelo entre a diferença entre o período em que fui aluna nos anos 80/90 e quando comecei a dar aula em 2010... Na minha época de aluna, não me lembro de ver nenhum aluno com deficiência... Já em 2010, muitos alunos estavam na escola... Não sei se devidamente incluídos, mas penso que melhor do que na minha época, que nem lá estavam...

De lá para cá, dei aula duas semanas para uma turma de cegos e uma de surdos (com intérprete), mas só substituí a professora por este período... Achei interessante os vários questionamentos, as curiosidades, tive acesso a como fazem as atividades, como tomam nota... A gente só fica sabendo quando presencia! E achei uma experiência rica, mesmo que curta...

E por último, dentro do IFSP. Uma aluna com deficiência intelectual... Era bem legal vê-la desenvolvendo... Tive a oportunidade de acompanhá-la por um ano e meio...E no fundo, fica um sentimento de impotência, de que poderia ter feito mais... Mas penso que fiz bons trabalhos com ela, estimulando-a a pensar por si... Fazer as produções textuais com ideias próprias... Conversar para avaliar se o que discutimos tinha sido compreendido... Enfim, penso que aprendemos muito mais com os alunos - com deficiência ou não - do que o contrário.